15 de agosto de 2015

"Cê é da Macumba? Eu sou do Babado" Sobre Desconstruir a Fala Preconceituosa




Quem nunca ouviu (por brincadeira), alguém de axé dizer que "é do babado"?

Quem nunca foi questionado se faz, ou não, macumba? 

Tudo bem se você, já nas primeiras linhas, pensar "Ahhh... Lá vem o Cipó causando", ou até dizer "nada a ver isso", mas tudo bem. O objetivo não é convencer sobre minhas convicções, mas convido a refletirmos sobre a importância de desconstruir algumas de nossas falas preconceituosas. 


"Mas Cipó, eu também sou da Macumba... Eu também sou do Babado." Esse tipo de fala, me lembra o: "Eu não sou racista, até tenho amigos negros." Mas vamos adiante...


Uma vez, disse que a luta contra intolerância religiosa deve ser estrategicamente construída, dia após dia. E para construir, é preciso sim desconstruir algumas de nossas ideias que alimentam a ignorância sobre nossas questões.

Candomblé é o nome da Religião. Umbanda é o nome da religião. Eu tentei pesquisar, e o pouco que encontrei sobre a palavra macumba, é o que nós já sabemos: de origem no quimbundo, "macumba" é um antigo instrumento de percussão, espécie de reco-reco de origem africana. Isso, macumba é o Instrumento. 


Não teria problema nenhuma se esse batismo fosse algo que respeitasse as tradições e costumes negros, até porque ninguém se importa com apelido carinho, né?

 Tornou-se problema porque a palavra Macumba chegou em nossas vidas como o terror em forma de atabaques, corpos de danças alucinantes, rituais macabros, maldades e tudo que há de ruim no mundo. Quem construiu essa visão? A Hipocrisia de nossa sociedade escravocrata que só se esforça para manter as comunidades negras na invisibilidade, inferioridade e subalternidade. 


Parece  inofensivo dizer que "meu amigo também é a macumba" "eu sou do babado" "vou fazer uma macumbinha para te ajudar", entre outras expressões similares. Ao contrário do que parece, essas expressões não ajudam a desconstruir as falsas ideias sobre a nossa religiosidade e cultura negra. Não nos colocam em lugares de respeito. Mantém-nos no campo de engraçados, porque rapidamente alguém ao ouvir isso, vai soltar uma piadinha, tipo: "Chuta que é Macumba", "Não encosta que é encosto", e todas as outras banalidades de estereótipos que maldosamente nos são empregados, desde sempre. 


Nosso papel em tudo isso, é afirmar quem somos. Mas cabe a nós a consciência de construir uma visão mais respeitosa da sociedade para com as religiões de matriz africana.  Não existe babado nenhum! Não existe essa "macumbaria" toda que nos associam às coisas mais cruéis e/ou bizarras que acontecem no dia-a-dia.
Quando a TV anuncia um crime ligado a bruxaria e (conscientemente) nos associa à tais práticas, precisamos mesmo dizer que nosso mundo não é esse. Nada dessas maldades  tem a ver com candomblé.



Existe sim uma religião complexa, pautada no saber ancestral africanos e nas relações humanas com a natureza e energias que se movimentam ao nosso redor. Uma religião que para conhecer é preciso abrir o coração e se desprender de todos os preconceitos que nos foram ensinados nas escolas, nas ruas, nos programas de humor - que de humor não tem nada, e até em nossas casas.

Ser do Candomblé nos dá a responsabilidade de atentarmos sempre às nossas posturas e palavras para não colaborarmos (mesmo que por "inocência") com a perpetuação das falas preconceituosas que só agridem a nós mesmo. 


Não somos da Macumba!

Mesmo que você seja do candomblé e queira usar a palavra  para "facilitar" o entendimento de seu círculo social. Troque sempre a macumba pelo nome real e assim, a gente ajuda e desprender todas as maldades a nós atribuídas.

Grite mesmo ser do Candomblé, e se alguém não entender o que é, abra-se para explicar - porque ninguém tem culpa de ser desinformado. Pois se nós sabemos as verdades, que possamos compartilhá-las de formas conscientes. 
No mais, eu preciso dizer que existe um Babado, sim. Mas o único babado que conhecemos, é o das Lindas Saias Rodadas de Nossas Grandes Mães.  

[Foto 1 do Ensaio: Nega Duda por Olhar de um Cipó - Foto 2 - Abaça de Babá Okê: Roger Cipó - © Todos os Direitos Reservados para Olhar de um Cipó]





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