29 de agosto de 2016

Sobre Racismo, Genocídio e Candomblé: Orixá nos reconhece


Desde antes da escravidão, vidas negras são inferiorizadas, demonizadas, marginalizadas e assassinadas por um projeto social que não reconhece humanizadas as vidas de descendentes de reis e rainhas africanos.
Se, por um lado, a violência racial insiste em atravessar os séculos, numa tentativa de apagar presenças negras, por outro o Candomblé, resiste bravamente e fortalece nossos laços com as divindades africanas que, da mesma forma que nos amparam, ampararam nossos ancestrais, quando obrigados a cruzar o Atlântico em navios negreiros para o trabalho escravo, construindo com suor e sangue, uma terra racista por excelência, que nos dias de hoje, acedita piamente em democracia racial, mas segue derramando sangue negro.

De 2003 a 2013, o número de mulheres negras assassinadas cresceu 54%, no país.
Você sabia que 77% dos homens negros morrem (assassinados) entre 15 e 29 anos?
E os números seguem aumentando, sem falar daqueles números não contabilizados, pois há corpos desaparecidos, há vidas desaparecidas. 

A esse extermínio, chamamos de Genocídio da Juventude Negra, um projeto extremamente nocivo para o futuro do país, pois morrem jovens entre 15 e 29 anos, idade fértil e produtiva.
Por exemplo, em 2016, uma mulher negra nascida em 1986, terá apenas 23% de chances de se relacionar com um homem negro da sua idade.
Toda vez que você for fazer uma piada como: "tá faltando homem no mundo. Lembre-se que, os homens negros, por exemplo, estão sendo assassinados, antes até de constituir suas famílias.
Eu estou falando isso tudo, para dizer mais uma vez, que o racismo existe e mata. Os dados acima constam em http://www.mapadaviolencia.org.br/ e o acesso é gratuito. Além disso, a internet está aqui, cheia de pesquisas importantes e denuncias feitas pelos movimentos negros, que ao observarem tamanha violência contra nosso povo, constata (e fotaleço o grito) que uma das principais e mais terrível causa é o fato do Racismo ser Institucional e Estrutural. Há racismo, inclusive na "legalidade" de leis. Nunca se esqueçam que a escravidão era "legal por lei".

A perseguição aos terreiros e todas as manifestações culturais e de fé afrodescebdente era "legal por lei". Atirar na cabeça ou no peito de um "suspeito" (quase sempre "negros suspeitos"), faz parte do modo "legal" de atuação da polícia brasileira.
E tem muito mais... Dizer que o meu "cabelo é duro", não parece ser legal, ou só opinião. Não é. É crime de racismo.
Sabe quando dizem que nós negros vemos racismo em tudo? Está certo.O racismo é um mal instalado em nossa sociedade, educação, em nossas casas, nas relações pessoas, e muitas vezes, imperceptível. Pode não ser visto, não percebido, mas causa sequelas irreversíveis no desenvolvimento de crianças, jovens, e até adultos negros. Mas falo sobre isso em uma outra oportunidade.
O que quero com essas linhas, é alertar! Leia um pouco sobre, e se você é alguém não negro, não se sinta ofendido quando tratamos do assunto. Só conseguimos resolver um problema quando aceitamos que ele existe. Aceitar que o racismo existe, e que ele mata, física, psicológica e simbolicamente, é o primeiro passo para o enfrentamento a esse mal.
Talvez, algumas pessoas não entendam porquê eu estou usando uma foto tão linda para tratar de um tema tão dificil, mas digo que, quando estou no candomblé e meus olhos presenciam cenas como essa, tenho a certeza de que Orixá existe, e mesmo uma sociedade que não reconhece nem humanidade em corpos negros, os orixás do candomblé nos tratam com dignidade, com respeito, amor, e com toda humanidade nos negada em ruas, espaços e relações racistas.

Texto e Foto: Roger Cipó © Olhar de um Cipó - Todos os Direitos Reservados / All Copyrights Reserved

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